O CAMINHO MENOS PERCORRIDO
Dou por mim a lançar às audiências o mesmo discurso, cada vez mais insistente: não acreditem. Nas escolas, nos locais de conferência, por escrito. A mesma imagem das ovelhas alienadas; o caminhar confiante delas a caminho do matadouro; os seus balidos de desconfiança a quem lhes diz "fujam". Não acreditem no que se diz nas televisões, leiam os jornais com a reserva de quem sabe estar em mãos afiadas para a tosquia das gentes. Pensem. Leiam livros escritos há muito tempo, filtrados pela História. Não condenem automaticamente o que vos dizem para condenar, não obedeçam sem reflectir. A Alienação existe. E é sempre mais forte do que a nossa capacidade de avaliar.
Nossa Senhora só aparece às futuras freiras e a crianças mortas. Um apresentador de telejornal pensa na prestação da casa que cairá a 30 do corrente antes de enfiar a cara séria. O homem de meia-idade que condena o comportamento irregular do vizinho passa todos os domingos os olhos pelo rabo da empregada de pastelaria que o serve em família; algumas vezes tem no seu telemóvel o número de uma voz mais nova e nem por isso mais fresca com que se esfregará, apressado, se ela deixar.
Digo: "Não acreditem", e ouço ao fundo a minha própria televisão. Thank God que só o gato a mira, mais interessado na mosca que insiste em esvoaçar diante dos rodapés dramáticos.
Dou por mim a repetir tudo isto, insistentemente. Para quê?... Se as ovelhas mal sentem o ferro que lhes abrirá o crânio?
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